sexta-feira, 8 de julho de 2011
Antes do século XV, o estudante não estava submetido a uma autoridade disciplinar extracorporativa, a uma hierarquia escolar, mas tampouco estava entregue a si mesmo; ou residia perto de uma escola com sua família, ou, na maioria das vezes, morava com outra família à qual havia sido confinado a um contrato de aprendizagem que previa a freqüência a uma escola. Aliás, ele pertencia a uma sociedade ou a um bando de companheiros: tinha que entrar para associações, corporações, confrarias ou o estudante seguia um mais velho e em troca era surrado e explorado. O fato é que uma camaradagem às vezes brutal porém real regulava sua vida cotidiana, muito mais do que a escola e seu mestre, e, porque essa camaradagem era reconhecida pelo senso comum, tinha um valor moral.
Porém a partir do fim da Idade Média, o sistema de camaradagem se deteriora gradativamente, então a juventude escolar seria organizada com base em novos princípios de comando e de hierarquia autoritária, surgem idéias novas da infância e de sua educação: para o Cardeal d’Estouteville, as crianças não podiam ser abandonadas sem perigo a uma liberdade sem limites hierárquicos… os educadores eram responsáveis pelas almas dos alunos perante Deus; seus deveres não consistiam apenas em transmitir, como mais velhos diante de companheiros mais jovens, os elementos de um conhecimento. Eles deviam também formar os espíritos, inculcar virtudes, educar tanto quanto instruir. Duas idéias surgem ao mesmo tempo: a noção da fraqueza da infância e o sentimento da responsabilidade moral dos mestres. Portanto, o sistema disciplinar teria que fugir das raízes da antiga escola medieval, onde o mestre não se interessava pelo comportamento de seus alunos fora da sala de aula. Para definir esse novo sistema, três características: a vigilância constante, a delação erigida em princípios de governo e em instituição, e a aplicação ampla de castigos corporais.
A disciplina humilhante – o chicote e a espionagem – difere-se do modo de associação corporativa de antes, que era o mesmo para todas as idades: jovens e adultos. Entretanto, mesmo com essa substituição de modelo, o castigo corporal não é particular da infância, já que se generalizou ao mesmo tempo em que a concepção autoritária, hierarquizada da sociedade, em suma absolutista. Contudo restou uma diferença entre a disciplina das crianças e dos adultos: fidalgos escapavam do castigo corporal e o modo da aplicação da disciplina contribuía para distinguir as condições sociais. A análise de Ariès também revela que o adolescente, dentro do mundo escolar, era afastado do adulto e confundido com a criança, ou seja, não havia muita distinção entre a infância e a adolescência; jovens de até 20 anos, as vezes até mais também tinham que ser submetido a humilhação do castigo corporal e a uma disciplina idêntica a dos menores, estendendo-se a todas condições sociais. Logo, o sentimento da particularidade da infância, de sua diferença com relação ao mundo dos adultos, começou pelo sentimento de sua fraqueza, que a rebaixava a um nível mais inferior.
No século XVIII era preciso humilhar a infância para distingui-la e melhorá-la, entretanto foi surgindo um sentimento de repugnância, reprovação e então o caráter servil do castigo corporal não era mais reconhecido como adaptado à fraqueza. Surgiu a idéia de que a infância não era uma idade servil e não merecia ser metodicamente humilhada. Triunfa, no século XIX, uma nova concepção da educação, uma nova orientação do sentimento da infância, que não mais se ligava ao sentimento de sua fraqueza e não mais reconhecia a necessidade de sua humilhação. Tratava-se agora do despertar na criança a responsabilidade do adulto, o sentido de sua dignidade. A criança era menos oposta ao adulto do que preparada para a vida adulta.
Porém a partir do fim da Idade Média, o sistema de camaradagem se deteriora gradativamente, então a juventude escolar seria organizada com base em novos princípios de comando e de hierarquia autoritária, surgem idéias novas da infância e de sua educação: para o Cardeal d’Estouteville, as crianças não podiam ser abandonadas sem perigo a uma liberdade sem limites hierárquicos… os educadores eram responsáveis pelas almas dos alunos perante Deus; seus deveres não consistiam apenas em transmitir, como mais velhos diante de companheiros mais jovens, os elementos de um conhecimento. Eles deviam também formar os espíritos, inculcar virtudes, educar tanto quanto instruir. Duas idéias surgem ao mesmo tempo: a noção da fraqueza da infância e o sentimento da responsabilidade moral dos mestres. Portanto, o sistema disciplinar teria que fugir das raízes da antiga escola medieval, onde o mestre não se interessava pelo comportamento de seus alunos fora da sala de aula. Para definir esse novo sistema, três características: a vigilância constante, a delação erigida em princípios de governo e em instituição, e a aplicação ampla de castigos corporais.
A disciplina humilhante – o chicote e a espionagem – difere-se do modo de associação corporativa de antes, que era o mesmo para todas as idades: jovens e adultos. Entretanto, mesmo com essa substituição de modelo, o castigo corporal não é particular da infância, já que se generalizou ao mesmo tempo em que a concepção autoritária, hierarquizada da sociedade, em suma absolutista. Contudo restou uma diferença entre a disciplina das crianças e dos adultos: fidalgos escapavam do castigo corporal e o modo da aplicação da disciplina contribuía para distinguir as condições sociais. A análise de Ariès também revela que o adolescente, dentro do mundo escolar, era afastado do adulto e confundido com a criança, ou seja, não havia muita distinção entre a infância e a adolescência; jovens de até 20 anos, as vezes até mais também tinham que ser submetido a humilhação do castigo corporal e a uma disciplina idêntica a dos menores, estendendo-se a todas condições sociais. Logo, o sentimento da particularidade da infância, de sua diferença com relação ao mundo dos adultos, começou pelo sentimento de sua fraqueza, que a rebaixava a um nível mais inferior.
No século XVIII era preciso humilhar a infância para distingui-la e melhorá-la, entretanto foi surgindo um sentimento de repugnância, reprovação e então o caráter servil do castigo corporal não era mais reconhecido como adaptado à fraqueza. Surgiu a idéia de que a infância não era uma idade servil e não merecia ser metodicamente humilhada. Triunfa, no século XIX, uma nova concepção da educação, uma nova orientação do sentimento da infância, que não mais se ligava ao sentimento de sua fraqueza e não mais reconhecia a necessidade de sua humilhação. Tratava-se agora do despertar na criança a responsabilidade do adulto, o sentido de sua dignidade. A criança era menos oposta ao adulto do que preparada para a vida adulta.
Reflexão:
Antigamente, prevaleciam os castigos escolares físicos: palmatória, reguadas, beliscões, puxões de cabelos e de orelhas, manter o aluno em pé ou de joelhos com as mãos estendidas para a parede, colocar orelha de burro no aluno etc. Hoje, imperam os castigos psicológicos, pois os professores são proibidos de exercer qualquer castigo físico ao aluno. Assim, os alunos são punidos com as cópias, suspensão do recreio, deveres extras, “cadeirinha do pensamento” (lugar onde se coloca a criança, afastada dos colegas para pensar no “mal feito”), faltas disciplinares, ida ao Gabinete de Pedagogia Disciplinar, ida ao Conselho Disciplinar, recado na Caderneta, conversa com os alunos etc. Os tempos mudaram!
0 comentários:
Postar um comentário